O Valor Econômico do Trabalho de Cuidado

Os trabalhos domésticos e de cuidado podem ser definidos como “trabalho invisível”, pois é um serviço que exige tempo e esforço, mas que não é reconhecido como um trabalho real e poucas vezes é remunerado. Essas tarefas estão atreladas aos afazeres domésticos: cozinhar, limpar, organizar, fazer compras, além dos atos de cuidado com outros indivíduos, como alimentar, amamentar, brincar, ensinar, fazer companhia ou monitorar, levar para médicos, escolas, atividades sociais e muitas outras.

Estes trabalhos são desempenhados quase que exclusivamente pelas mulheres no Brasil é uma peça fundamental na manutenção do funcionamento da sociedade, embora muitas vezes permaneça invisível e subvalorizado. A invisibilidade deste trabalho é resultado da desigualdade de gênero causada pela cultura do patriarcado e pelo sistema capitalista que não reconhece o valor econômico de trabalhos que não geram lucros.

O ponto principal que deve ser debatido quanto ao trabalho de cuido é a sobrecarga que ele gera. Isso porque as mulheres brasileiras desempenham um papel desproporcional no trabalho de cuidado não remunerado, que engloba atividades como cuidar de crianças, idosos e pessoas com deficiência, tarefas domésticas e apoio emocional às famílias. Essa sobrecarga de trabalho, muitas vezes, compromete a participação das mulheres na força de trabalho remunerado e limita suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. E como o trabalho de cuidado é frequentemente invisível nas estatísticas econômicas e políticas do país, a falta de reconhecimento e valorização contribui para a desigualdade de gênero, pois a falta de reconhecimento acaba deixando as mulheres de fora de importantes decisões políticas e econômicas.

Para tanto, é importante ter um olhar social no qual foram criadas as normas de gênero que regem a sociedade, as quais, muitas vezes, colocam a responsabilidade do trabalho de cuidado sobre as mulheres, enquanto os homens têm menos incentivo para compartilhar essa carga. Isso perpetua estereótipos de gênero e limita as oportunidades das mulheres de se livrarem da sobrecarga de cuidados não remunerados.

Atualmente, já temos decisões em que foi reconhecido o valor econômico do trabalho de cuidado, nesses casos houve o reconhecimento para fixação da pensão alimentícia quando o regime de convivência é quase que integralmente com a mãe, o que acontece na maior parte das vezes. Assim, a mulher que irá exercer todo o cuidado com os filhos pode requerer, quando houver a fixação dos alimentos, que seja atribuido um valor ao seu trabalho de cuidado alterando a divisão dos gastos da criança, designando uma maior porcentagem destes gastos ao genitor, uma vez que, a mãe irá cumprir com uma parte através da realização deste trabalho invisível, o cuidado diário.

Desta maneira, pode-se dizer que a invisibilidade do trabalho de cuidado das mulheres no Brasil é um problema complexo que afeta a igualdade de gênero e o desenvolvimento social e econômico do país. Para enfrentar esse desafio, é essencial reconhecer, valorizar e redistribuir o trabalho de cuidado, promovendo políticas e mudanças culturais que contribuam para a igualdade de gênero e o bem-estar das mulheres brasileiras. O reconhecimento e a valorização do trabalho de cuidado não são apenas uma questão de justiça social, mas também um passo importante para o desenvolvimento sustentável do país.

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